Durante muito tempo eu busquei a felicidade. Nos outros. Nos amores que desejei para mim. Nas dietas que fiz. Nas coisas que comprei. No trabalho que idealizei. No dinheiro que me daria segurança. Nas aventuras que me atraiam. Na religião que herdei. Na alma gémea que daria sentido à minha vida. A tal de felicidade, encontrei-a por instantes. Fugidios. Encontrava-a e já se instalava o medo de voltar a perdê-la. Como toda a gente, concluí que a felicidade é uma amante volúvel. Não se é feliz, está-se feliz. E tinha mais é que agradecer essas migalhas de felicidade. E invejar os que -pensava eu- se regalavam com o banquete. Os bem integrados socialmente. Os bem amados. Os que comiam sem engordar. Os que tinham boas e belas coisas. E óptimos empregos, nos quais ganhavam bem. Os destemidos e aventureiros. Os que tinham sido tocados por Deus. Os abençoados com um amor infinito. Se… se…se… eu seria feliz. Se alguma coisa extraordinária acontecesse. Se alguém me viesse salvar… Enquanto isso uma depressão recorrente me arrastava. E a minha auto estima de ***** chafurdava. Emprenhei. Uma luz acendeu-se dentro de mim. “Cada vez que nasce uma criança no mundo é sinal que Deus ainda confia nos homens…” -deram-me num cartão. Chorei. Alguém ainda confiava em mim. A partir daí foi um processo lento de recuperação. Com muitos momentos de felicidade e outros de medo. E uma situação limite, daquelas que nos destroem ou nos fortalecem. Aguentei-me. Percebi que tinha que cuidar de mim e fui tratar-me. Ah, a auto estima, desconhecida auto estima, preciosa auto estima… recuperei-a. E descobri que me podia salvar sozinha. Foi o bastante para me descobrir feliz ! E mais: Que essa felicidade não dependia de ninguém nem de coisa nenhuma, que ela esteve sempre presente, acessível. Ninguém m’a trouxe, não veio com nada, fora de mim nada mudou. Portanto, nada nem ninguém m’a pode tirar. Pode ser abalada, mas sempre resgatada, porque minha. Nossa, porque está à nossa volta em cada perfeita partícula da natureza. Paira no ar que todos respiramos. É respirá-la e encher de felicidade o nosso corpo e a nossa vida. É escolher ser feliz. Apesar de... A infelicidade está sempre no passado a que nos apegamos ou no futuro que se teme e nos imobiliza. E desses só eu posso escolher sair. No presente, a cada momento, eu escolho viver. Escolho ser feliz e ao fazê-lo não dou a ninguém o poder de escolher por mim. É por isso que hoje eu sei que, ao contrário de estar feliz sem nunca poder sê-lo, eu SOU feliz…posso é não está-lo. Por algum tempo. Porque a vida é assim mesmo, uma perpétua mudança, ninguém nos prometeu um mar de rosas !