Acho que nasci sob o signo da Borboleta. Transformação.
Vôo. Caio. Rastejo. Fecho-me no meu casulo. Reinvento-me Borboleta e recomeço a voar… Primeiro formei-me em Desenho e Pintura mas logo larguei a solidão dos pincéis para pintar com os meus fluidos a tela da minha vida. Especializei-me em Estilismo, aprendi os truques da Maquilhagem. Redesenhei corpos. Mudei de pincéis e de tintas. Fui patinho feio, transformei-me em cisne. Fiz-me feiticeira. Cujo maior prazer é transformar mulheres reais em mulheres reais conscientes da sua beleza.
Depois veio a Televisão e a Publicidade. Criei ilusões. Iludi-me. Desenhei colecções para confecções, produzi desfiles de Moda. Subi ao palco e cantei. Ofuscaram-me as luzes, seduziram-me os bastidores. Vesti músicos e cantores. Leccionei Desenho, Estilismo e Maquilhagem. Transformei pessoas reais em pessoas que sabem mais. Pediram-me palavras e escrevi. Ilustrei. Imprimi a minha marca. Montei um atelier. Personalizei couros, camurças, peles. E como um réptil, fui despindo peles que se tornavam apertadas e me tolhiam os movimentos. Pintei camurças, pintei tecidos, transformei em tecidos o papel. Brinquei com Bonecas de Papel. Ouvi o apelo do Teatro. Fiz-me Cenógrafa, Figurinista, Caracterizadora. E autora. Nasceu “Sob o Signo da Virgem”. Já fui mais.
Um dia a Magia maior aconteceu: tornei-me criadora de Vida. Redescobri o processo lento e solitário da criação. Olhei para dentro. Voltei a pintar. Mulheres. Fêmeas. Poderosas. Mágicas. Corpos belos porque plenos de poros e mistérios. Arcas de tesouros. Bocetas de Pandora. Casulos que abrigam borboletas.
Pari a cria, fui mãe inteira, criei-a. Reabri os meus olhos pelos olhos dela. Lambi feridas, cerzi lacunas, pacifiquei-me. Escrevi, escrevi e desenhei segredos na amada privacidade do meu mundo. Agora, asas voltam a crescer. Abro a arca, espalho o pólen.
Sopro. Mostro. Sinto: Borboletas na barriga = Amor = Transformação